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Este brasileirinho fincou as patas no exterior e conquistou os estrangeiros. Saiba como e por quê.

Reportagem: Alonso Vera Júnior e Carmen Olivieri. Redação: Carmen Olivieri. Edição de texto: Flávia C. Soares e Marcos Pennacchi. Coordenação de reportagem e texto final: Flávia C. Soares. Site: www.petbrazil.com.br 

Nossa última reportagem sobre este cão, em abril de 1995, mostrava sua escalada final em direção ao reconhecimento internacional como raça. Naquela época, depois de muita luta, faltava apenas corrigir no padrão oficial a forma de descrever algumas características da raça. Feita a correção, dois meses após, em junho de 1995, o Fox Paulistinha, já com o nome de Terrier Brasileiro, que condizia melhor com o status de raça internacional, garantia o seu espaço na cinofilia mundial. Ele e o Fila se tornaram as únicas raças representantes do Brasil, ao lado das centenas aceitas pela Federação Cinológica Internacional (FCI).

E se é verdade que havia um certo preconceito da cinofilia e até de uma parte do público sobre o Terrier Brasileiro - mesmo que ele fosse há 5 anos aceito como raça no Brasil - o reconhecimento internacional caiu como um ponto final no discurso daqueles que o chamavam de "cão de rua". "Com o reconhecimento internacional, a idéia de que o Paulistinha é um vira-lata acabou", constata Celso Bittencourt dos Anjos, presidente do Clube Gaúcho do Terrier Brasileiro e criador do Canil Terra da Pituva, em Porto Alegre - RS.

"Depois do reconhecimento, notei que as pessoas estão dando mais valor ao Terrier Brasileiro", avalia Inês Regina Maciel, criadora há dez anos pelo Canil Petit Souvenir, em São Paulo - SP.

Atrás da fama

Com o sinal verde para o mundo da cinofilia internacional, o sonho de uma divulgação efetiva do Terrier Brasileiro em outros países pisou no campo da realidade. Enfim, a raça poderia ir ao encontro da nata da cinofilia, desfilando em conceituadas exposições do exterior, onde a imprensa especializada e os juízes e criadores do mundo todo marcam presença. Sabedores dessa importância, no ano passado, pela primeira vez, os dois presidentes de clubes da raça no Brasil, Marina Vicari Lerário, do Clube do Fox Paulistinha e criadora pelo Canil Taboão em São Paulo - SP, e Celso dos Anjos levaram um casal de Terriers Brasileiros para as pistas estrangeiras, na França, Áustria e Hungria. A semente estava plantada. Se o fato de a raça ser uma novidade já desperta a curiosidade de qualquer um, imagine então se ela der um verdadeiro show. Foi o que ocorreu. O cão de Marina, o Pingüim, faturou nada menos que o segundo lugar entre as raças do grupo Terrier, na maior exposição da França, o que significa simplesmente que foi um dos vinte melhores do evento, do qual participaram 8 mil cães de diversas raças. O Terrier Brasileiro ganhava os seus primeiros 15 minutos de fama em várias televisões européias. "A raça foi assunto de reportagem para tevês e revistas da França, Polônia, Áustria e Hungria, Japão, Dinamarca e Rússia", lembra Marina. "Queriam saber detalhes sobre o trabalho para a raça ser aceita pela FCI, além de características temperamentais e qualidades como caçadora."

Nas ruas do velho mundo, a graça do Terrier Brasileiro também atraiu as pessoas. "Alguns perguntavam que raça era, outros achavam que se tratava de um Jack Russel, que talvez tenha entrado na formação do nosso cão e cuja semelhança - ainda que nem seja tão grande - quase impediu o reconhecimento do Terrier Brasileiro pela FCI, que resiste em aceitar raças novas quando há outras parecidas", conta Celso. Mas teve quem logo de cara identificasse o Terrier Brasileiro. "Imagino que fosse gente com cultura cinófila, pois por duas vezes disseram em plena rua: 'look a Brazilian Terrier', recorda Marina. Para completar a divulgação da raça lá fora, Marina e Celso acasalaram seus cães e deixaram a ninhada na França.

Finlândia

Hoje, há aproximadamente quase dois anos do reconhecimento, quisemos saber como está a raça mundialmente. E tivemos uma surpresa. Há Terriers Brasileiros espalhados por diversas partes. São poucos, é claro. Mas já chegaram à África do Sul, França, Áustria, Finlândia, Portugal, Espanha, Argentina, Venezuela, Estados Unidos e até ao Japão. Entramos em contato com os proprietários da raça em alguns desses países e, para orgulho dos brasileiros, eles apostam nas qualidades do nosso cão e fazem planos promissores. O reconhecimento internacional é sem dúvida a mola propulsora do entusiasmo estrangeiro. A finlandesa Pirjo Korpinenp, que mora em Ypãjã e tem também cães da raça Jack Russel e Schnauzer, é um bom exemplo da importância - muitas vezes decisiva - do fator reconhecimento internacional. Anos atrás, sua prima que mora no Brasil foi visitá-la e, como ganhou de Pirjo um filhote de Schnauzer, disse que pensaria numa raça para retribuir a gentileza. "Na época, há uns 5 anos, minha prima me ligou, falando sobre o Terrier Brasileiro", lembra Pirjo. "Procurei-o em uma enciclopédia e percebi que me agradaria, pois gosto de cães pequenos com pêlo curto e além disso ele era descrito como inteligente." Para decepção de Pirjo que adora participar de exposições, a enciclopédia também informava que a raça não era reconhecida pela FCI. "Fiquei frustrada e avisei a minha prima para não mandar o cachorro, pois não poderia levá-lo a exposições." Quase três anos se passaram, até que em 1996 a prima informou-a sobre o reconhecimento internacional.

Em junho, desembarcava em solo finlandês um casal de Terriers Brasileiros. Pirjo que já os levou para várias exposições em seu país sentiu na pele - a exemplo de Marina e Celso - o interesse das pessoas pela raça. Em janeiro desse ano, na maior exposição realizada na Finlândia, com mais de 6 mil cães participantes, a pista onde os Terriers Brasileiros desfilavam ficou rodeada de gente.

 "Era uma pequena multidão de curiosos, queriam ver aquela raça inédita, e muitos vieram falar comigo", conta Pirjo. "O sucesso foi tanto que já tenho cinco reservas de filhotes", completa ela que planeja divulgar a raça nas pistas da Suécia, Dinamarca, Estônia, Letônia e Lituânia e também já está providenciando a importação de mais três exemplares do Brasil. "Quero criar a raça e torná-la conhecida", afirma.

Áustria

A austríaca Angelika Purkhauser é outra que está animada com a sua recente criação de Terriers Brasileiros, e planos para divulgá-los não lhe faltam. Fã declarada do Brasil, uniu a simpatia pelo país tropical com o desejo de ter uma raça de guarda e resolveu, há 11 anos, iniciar uma criação de Filas Brasileiros. Hoje, ela é presidente do clube da raça na Áustria. O Terrier Brasileiro só apareceria mais tarde em sua vida. Primeiro ela conheceu a juíza do Brasil, Suzzane Blum, numa exposição na Alemanha, em 1990. Foi Suzzane quem comentou com ela, cinco anos depois, que a FCI havia reconhecido outra raça brasileira. "Consultei uma enciclopédia", conta Angelika, que assim que deparou com a fotografia teve certeza de que queria aquele cão.

Mais uma vez, o fato de a raça ser brasileira somou-se à vontade de adquirir um cachorro semelhante ao Jack Russel, raça que Angelika criara no passado. "O Terrier Brasileiro surgiu na hora certa, meus Jack Russels morreram e eu estava querendo um terrier para deixar junto com os meus cavalos", conta. A primeira vez que Angelika viu um Terrier Brasileiro pessoalmente foi o de Marina, na exposição em Viena, em 1996, na qual a raça estreava fora do Brasil. "Como Marina não estava, eu a localizei pelo catálogo e ela me enviou um casal." Em maio, Angelika pretende levá-los a uma exposição na Alemanha, e no ano que vem irá acasalá-los para ter - como ela mesma ressalta - a primeira ninhada austríaca da história do Terrier Brasileiro. Fundar um clube para a raça também faz parte de seus planos. "Preciso esperar que mais algumas pessoas comecem a criar, pois só há meus dois exemplares aqui. Aí, sim, farei o clube ou talvez um único para as raças brasileiras", idealiza Angelika, que acredita no potencial do nosso Terrier. "Só para ilustrar, tenho cerca de 20 amigos querendo um cão desses."

França

Outra que viu pela primeira vez o Terrier Brasileiro na tournée feita por Marina e Celso foi a francesa Petit Renée, que já criou a raça Spitz Alemão. "Já tinha ouvido falar dele, quando o vi, gostei da aparência e do jeito ativo e encomendei ao Celso uma fêmea", fala Petit. O exemplar de Petit chegou à França em setembro. Como o regulamento do país exige a quarentena de seis a nove meses para os cães importados, a cadela, enquanto a reportagem estava em andamento, ainda não havia participado de exposições, mas já estava inscrita para uma, prevista para março. "As pessoas que me visitam fazem comentários favoráveis à raça. O estilo do Terrier Brasileiro terá sucesso na Europa, por isso pretendo encomendar mais dois exemplares e iniciar a criação", fala Petit. "Também é possível que eu arrume machos para acasalar na França mesmo, pois sei que uma ninhada nasceu e permaneceu aqui no ano passado, e o próprio presidente do clube dos terriers da França tem um Terrier Brasileiro."

Espanha

Na Espanha, a raça também tem os seus fãs. Um deles é o criador de Filas, Eduardo Benito Ruiz. Antes mesmo do reconhecimento internacional, Eduardo contatou Marina. Ele, que já tinha escrito alguns artigos para revistas cinófilas espanholas, estava preparando um perfil sobre o Fox Paulistinha na enciclopédia Los Perros e queria mais informações. Marina uniu o útil ao agradável. Para agradecê-lo por divulgar a raça na obra e ainda aproveitar para divulgá-la mais ainda, encontrou o presente ideal: um casal de exemplares. Deu certo. Em 1992, José Salvador Martinez, outro espanhol criador de Filas Brasileiros, que freqüentava a casa de Eduardo, conheceu pessoalmente o Terrier Brasileiro e comprou dele um casal. "Interessei-me pelos cães pois via como eram ativos e alertas, deixando os Filas mais atentos e sempre em movimento", conta José. "Agradou-me a idéia de criá-los juntos, para que se completassem na guarda." Na época, José sabia que a raça não era reconhecida pela FCI e que em virtude disso não teria uma grande aceitação do público. "Na Europa, é difícil comercializar uma raça que não pode ser registrada e levada em exposições, tanto que a maioria dos filhotes das três ninhadas que tive foi dada de presente."

Em março do ano passado, José esteve no Brasil e soube que a raça estava sendo reconhecida pela FCI. A partir da novidade, a perspectiva dele mudou. "Uma vez reconhecido, o apelo do Terrier Brasileiro sobre os europeus é grande. Além de as pessoas daqui gostarem de raças raras, ele tem qualidades que estão em alta como o tamanho pequeno, o pêlo fácil de tratar e o temperamento ativo e disposto a aprender", conclui o criador que está esperando a documentação de seus cães chegar do Brasil para iniciar a carreira nas pistas.

Enquanto isso não ocorre, ele já levou um de seus exemplares para um julgamento "extra oficial" numa exposição em Murcia e orgulha-se: "Os juízes que analisaram meu cão foram Javier Sanchez, ex-presidente do clube dos terriers da Espanha, e Rainer Vuorinen, finlandês especializado em terriers. Ambos disseram que nunca viram um Terrier Brasileiro melhor que o meu e eles já estiveram no Brasil observando os exemplares daí". Animado com o Terrier Brasileiro, José pretende comprar mais dois cães do Brasil e propor um artigo sobre a raça para a revista espanhola El Mundo del Perro. "É a revista especializada em cães mais antiga da Espanha e, por ser distribuída em vários países da Europa, um artigo nela funcionaria como um grande impulso para a raça."

Portugal

A brasileira Irene Mahle Toller que mora em Portugal desde 1989 e já criava a raça no Brasil há 17 anos, chegou a desistir de criar quando mudou para lá. "Em 1992, trouxe dois exemplares do Brasil, acasalei-os e fui ao Clube de Canicultura Português registrar a ninhada", conta Irene. "Tive uma decepção quando soube que, por não serem aceitos pela FCI, eu não poderia registrá-los ou apresentá-los em pistas."

" Ainda assim, Irene obteve mais uma ninhada para tentar divulgar a raça, mas não teve sucesso e doou a maior parte dos filhotes. "Agora com o reconhecimento internacional vou recomeçar, participar de exposições e divulgar o Terrier Brasileiro", garante. "Com o pedigree de valor mundial, os portugueses certamente se interessarão pela raça."

África

A Tailândia e a África do Sul também não são terrenos desconhecidos do Terrier Brasileiro. A responsável por essa 'peregrinação' é a brasileira Sayomi Tasaki, que hoje mora na África do Sul. Sayomi já teve um exemplar da raça quando residia no Brasil. Depois, vivendo na Tailândia e saudosa do temperamento cheio de vida da sua ex-cadela resolveu importar um exemplar do Brasil, em 1994. Dois anos depois, Sayomi foi para a África.

Agora, ela pretende obter o registro da cachorra no território sul-africano, porém necessita de um pedigree internacional. Entre os planos de Sayomi está pedir uma assessoria do Clube do Fox Paulistinha de São Paulo para obter o documento e vir ao Brasil acasalar sua cadela. "Não pretendo iniciar uma criação propriamente dita, mas sim ter mais um exemplar e presentear meus amigos com o resto da ninhada, pois muitos querem um cão igual ao meu."

Graça Brasileira

O Terrier Brasileiro tem muitas qualidades para conquistar o mundo. "Ele representa a alegria, o calor e a amizade: tudo o que os brasileiros têm de melhor", diz a austríaca Angelika, que na verdade se refere à esperteza, à energia, à capacidade para aprender e para se exercitar que o caracterizam. A francesa Petit conta que ficou encantada com o temperamento da raça. "É gostoso ter cães espertos, cheios de energia, brincalhões e alegres." Sayomi é outra que se diz deslumbrada com a forma vibrante e cheia de ação e a maneira como assimilam rápido as coisas. Os cães da finlandesa Pirjo, por exem-plo, aprenderam a subir em suas costas quando ela agacha no chão e a andar apenas nas patas de trás, sem terem sido ensinados.

Entre os brasileiros, a facilidade de aprendizado do Terrier Brasileiro já é conhecida há muito. O adestrador Gilberto Miranda, que treina cães para a televisão e já trabalhou com 50 exemplares da raça, afirma: "É o mais fácil de ensinar entre todos os terriers e um dos melhores entre os cães pequenos". Façanha notável, já que de forma geral os terriers são cães de vontade própria, pouco solícitos em atender ordens.

A vivacidade da raça somada à inteligência e à leveza de movimentos faz com que Gilberto a considere excelente para adestramentos especiais como os para comerciais e espetáculos.

Pirjo arrisca até um palpite: "Acho que vão virar um sucesso aqui no míni-agility, um esporte em que a Finlândia é a campeã européia". De fato, segundo a opinião de um especialista nesse esporte, o adestrador Jeová de Oliveira, da Alternativa Dog Show, em Santo André - SP, essa raça é a melhor entre as pequenas que participam do agility. "É ativa, esperta, brincalhona e tem uma estrutura fina e leve, que facilita os exercícios", comenta. E Pirjo incentiva: "Quem sabe não teremos, em breve, um Terrier Brasileiro da Finlândia campeão mundial de agility". Para completar, a saúde da raça é de ferro. O veterinário Luís Seravalli, que já cuidou de mais de 100 exemplares, afirma que "dificilmente a raça apresenta algum problema, a não ser alergias, comuns a todos os cães". Gastar a enorme energia é muito importante para o Terrier Brasileiro. Se não houver um quintal grande, Luís recomenda passeios diários.

Versão Nova

A história mais conhecida do Terrier Brasileiro que aparece em livros e no padrão da raça diz que descendem de cães locais cruzados com o Jack Russel, o qual foi trazido por brasileiros que estudaram na Europa. Há outra teoria mais recente, que vem ganhando adeptos, inclusive defensores da anterior. Ela aponta como ancestral da raça, o Fox Terrier, que teria chegado ao Brasil com as embarcações portuguesas e holandesas. "Caçadores de roedores, como o Jack Russel ou o Fox Pêlo Liso não teriam sido trazidos pelos estudantes ao retornarem ao Brasil", opina Marina Vicari Lerário. "Encontramos cães parecidos com o Terrier Brasileiro nos lugares por onde os portugueses e holandeses passaram: Japão, Argentina, Uruguai e Chile." Marina acrescenta que as linhas curvas do Terrier Brasileiro se assemelham mais ao tipo físico do Fox Pêlo Liso de 150 anos atrás do que com as formas retilíneas do atual Fox Pêlo Liso.

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